Minha filha tem vergonha de mim!
A caminho da escola, minha filha Nina, 6, me pede pra falar o que padre fala pros noivos no altar. E lá vou eu: “na alegria e na tristeza, até que a morte os separe”…Descemos do carro e ela quer mais. E eu continuo. De repente, não mais que de repente, ela fala alto: “CHEGA, não precisa mais”. Não entendo nada. Pergunto o que houve e ela diz só faz sinal de silêncio pra mim. Na porta, antes de entrar, faz cara de envergonhada e eu percebo que o temido momento chegou: minha filha tem vergonha de mim!!!
Enquanto me dirigia até o carro – tentando assimilar essa novidade – foi como se eu voltasse no tempo. Lembrei de quando meu pai ía me levar na escola com a música (sertaneja) no último volume do rádio. Me lembro de morrer de vergonha dos meus amigos, de querer esconder a cara num buraco, de ficar com raiva do meu pai por aquela situação (por ironia do destino eu AMO sertanejo hoje!). Não sei se ele ficava triste com minhas reclamações, mas sei que nunca se curvou, continuou ouvindo o que queria na altura que achava legal ( e eu morri de vergonha por anos – que idiota!).
A virada do jogo
Hoje o jogo virou. Sou eu quem está do outro lado: do lado dos que fazem o filho passar vergonha. Quem diria! Sim, eu grito “eu te amo” quando deixo as meninas em algum lugar, sim eu beijo (muitas vezes na boca, me julguem), sim eu abraço até esmagar na frente dos amigos. Sim, ouço minhas músicas num volume bem alto (e às vezes é sertanejo)! Na verdade devo fazer outras coisas que as deixam envergonhadas e nem sei…
Engraçado ter mudado de lado. E mais: engraçado perceber que esse momento chegou muito mais rápido do que eu imaginava e que, a partir de agora, nem tudo que eu fizer vai ser tão legal como era meses atrás. Na verdade é um pouco engraçado e um pouco triste. Nasce uma menininha e, aos poucos, me despeço daquele bebê me venerava, pra quem eu era tudo. Nina, minha filha, pode deixar que, a partir de agora vou me policiar. E, ao contrário do que o vovô fazia, vou abaixar o volume do rádio.
Como é dificil essa fase. Não sou mãe mas tenho uma sobrinha que mora comigo, imagine 6 tias corujas e 1 vó. Ela está nessa fase. E só agora nossa ficha está caindo, o qto a nossa princesa cresceu.