Até outro dia eu era a preferida. Era para o meu colo que elas corriam, era do meu lado da cama que elas vinham de madrugada, era comigo que queriam tomar banho e andar de bicicleta. Mas, de uma hora para outra, mudaram de ideia. Agora papai é o queridinho, o mais legal, o mais engraçado. E agora estou morrendo de ciúme. Pronto, falei.

Papai é pop

Parece clichê dizer que as filhas meninas são mais ligadas ao pai, mas estou começando achar que é verdade. Pelo menos é o que parece estar acontecendo por aqui. Se o brinquedo quebra nem adianta eu tentar arrumar, elas dizem logo: “deixa que depois o papai arruma, você não sabe”. Se digo pra irmos no parque depois da escola elas soltam logo um “vamos esperar o papai pra ir junto”. Se invento de fazer algo muito legal elas querem tirar foto para mandar para o pai!

Papai é pop!

Claro que eu acho tudo isso muito fofo. Primeiro porque meu marido merece. Depois porque – mesmo com ciúme – eu acho mágica a relação entre pais e filhas. E, pra terminar, porque tive exatamente o mesmo caso de amor com meu pai quando criança.

Não que não sejamos amigos hoje, mas é que no passado ele era mesmo meu herói. O que ele dizia era lei (embora adolescente eu tenha transgredido algumas). Eu queria ser como ele, falar como ele, decidir as coisas como ele. Herdei muito do meu pai: o jeito descontraído e bonachão, a risada fácil, o coração enorme, o prazer pelo aperitivo antes do almoço e do jantar, a alegria de tomar uma cerveja com um amigo, o amor pelo carnaval.

Hoje moramos longe um do outro e ele não é muito fã de telefone. Nos falamos pouco, nos vemos menos ainda, mas ele sabe que o que sinto por ele é imensurável. E eu sei que ele tem o maior orgulho de mim. Se essa vai ser a relação que minhas filhas vão ter com o pai delas no futuro eu não sei. Mas eu torço pra que seja pelo menos parecida.