Turista no próprio país
Amanhã minha família e eu vamos para o Brasil. Passear. Rever a família e os amigos. E, juro, não tem nada mais estranho do que ser turista no próprio país. Pois é assim que eu me sinto. Estranho, né?
Moramos nos Estados Unidos há quatro anos. Vou muito ao Brasil desde então. No primeiro ano fui mais do que uma vez por mês. Só no segundo semestre desse ano vou umas cinco vezes em seis meses. Ou seja, nunca fiquei longos períodos sem ir. Mas quando chego no Brasil é esquisito. Parece que não me encaixo mais.
Turista no próprio país
Continuo amando meu país. Mas tenho medo de sair a noite na cidade onde morei tanto tempo. Fico com medo quando fecha o farol e estou num carro que não é blindado. Fico com medo quando o trânsito da marginal para. É tanta notícia ruim que a gente vê. Tanta tragédia que a gente acompanha pela tv. Que ser turista dá medo.
Não que aqui não aconteça nada de ruim. Mas a proporção é infinitamente menor. Não tenho 1% da preocupação que tenho no meu país. E falo isso com um aperto no coração. Com pena. Com dó mesmo.
Porque nosso país é o mais lindo de todos. Nosso povo é o mais solidário. Nossas festas são as melhores. Nosso carnaval ninguém nunca conseguiu copiar. Mas, de um tempo pra cá, está complicado andar pelas ruas até durante o dia. Até nas cidades do interior. Até em lugares antes tranquilos e pacatos. É triste, mas é a realidade.
De qualquer maneira preciso ver meus pais. Minhas filhas precisam conviver com os avós. Preciso reencontrar meus amigos. Preciso fazer algumas reuniões de trabalho. Então vambora! Mas não posso negar que vou com um medinho da violência das ruas. Ser turista no próprio país é no mínimo estranho.