Minha casa é real. Nada daquela coisa arrumadinha que a gente vê nas revistas. Muito pelo contrário. Todos os objetos ali tem história. Me trazem lembranças. Me fazem sorrir.

Minha casa não é de revista!!

Na minha casa o sofá manchado de canetinha me lembra que no primeiro Natal que passamos nos Estados Unidos minhas filhas abriram o presente no lugar errado. A cadeira com pingos de vinho me faz gargalhar ao recordar um jantar entre amigos que acabou em bebedeira. O tapete tem marcas de shoyo porque teve uma vez que eu e o Gui quisemos transformar a sala num restaurante japonês. E foi muito divertido!

No quarto das crianças está o primeiro urso de pelúcia que meu pai comprou quando elas nasceram (maiores do que eu e um pouco surrados). Na parede da sala de jantar pratos que trouxemos de uma viagem ao Marrocos (eu enchi a mala de jornal pra eles não quebrarem). Na sala de TV estão minha coleção de imagens de buda que acumulei ao longo do tempo, por onde passei. E por aí vai…lembranças de uma vida. Recordações de momentos que não voltam mais.

Talvez por isso seja difícil pra mim abandonar algumas peças. Trocar por outras mais novas. Não se trata de apego, uma vez que vivo doando roupas e sapatos. Trata-se de respeito a minha historia. De consideração com o que vivi ao longo desses 42 anos de vida.

Esses dias arrumando a casa nova foram de pura nostalgia. Me deparei com lembranças deliciosas, dei muita risada e até chorei sozinha ao encontrar um caderno com a letra da minha mãe, uma bolsa que minha avó me deu, as milhares de fotografias que tenho guardadas.

Foi como viajar no tempo sem sair do lugar. Engraçado e triste ao mesmo tempo. Por alguns minutos senti o tempo escorrendo pelos meus dedos. Foi como se me desse conta da finitude da vida.

Me deu medo, confesso. Mas, mais do que isso, me deu uma sensação de urgência de viver mais. De acumular ainda mais historias e experiências. Pra que daqui a outros 42 anos eu olhe pra trás como fiz esses dias: com orgulho de quem eu sou!