A fada do dente passou por aqui ontem de novo. Sim, Nina perdeu o segundo dentinho debaixo. Assim como da primeira vez ela chegou da escola com o dente na mão e um sorrisão no rosto. Estava louca pra colocar o dente debaixo do travesseiro e dormir logo. Sabia que no outro dia, se a fada tivesse vindo buscar o dente, ela encontraria umas moedinhas no lugar. Estava tudo muito lindo…até que ela perdeu o dente!!

Que pânico! Perto da hora de ir para a cama ela decidiu que tinha que lavar o dente. Levou aquela coisinha minúscula para pia contra a minha vontade. “Vai cair no ralo e você vai perder”, avisei. Não deu outra. Ela lavou o dentinho e deixou na pia. Esqueceu dele. Quando chegou a hora de dormir foi procurar e cadê? Foi um desespero, uma choradeira. “A fada do dente não vem mais”, gritava ela enquanto o pai tentava desmontar a pia para tentar encontrar o dente no cano.

Fada do dente não vem quando a criança perde o dente?

Enquanto isso decidi ajudá-la a escrever uma carta explicando para a fada o que tinha acontecido, em meio a muita choradeira. Estava quase conseguindo acalmar minha filha quando o pai apareceu com o dente na mão: “achei!”, gritou o herói. “Ufa”, pensei, enquanto ela seguia pra cama com o dente na mão. Nesse momento meu marido cochicha no meu ouvido: “na verdade eu não achei, esse é o primeiro dentinho que caiu e estava guardado, ela nem vai perceber”. Sou contra esse tipo de mentira (ou qualquer outro) mas entendi que ele tinha feito isso com a melhor das intenções. E que a ideia era sossegar nossa filha.

Estava indo tudo muito bem até, antes de dormir, Nina decidiu ir ao banheiro. Enquanto lavava as mãos pisou numa coisinha dura: o dente perdido. “Ué…mas o papai achou um e eu outro? Como assim?”. A confusão estava formada. E lá fui eu explicar o inexplicável. Inventei uma história mirabolante e disse que talvez outra criança que morou nessa casa antes da gente tivesse perdido o dente também, sei lá. Eu também estava com tanto sono que nem me lembro direito o que falei. Ou seja, mais uma mentira.

Só sei que ela acreditou. Na verdade Nina estava tão feliz que nem se aprofundou no assunto. Me devolveu um dos dentes (nesse momento eu já não sabia qual deles era, porque são quase iguais) e deitou para dormir tranquila. Voltei pro meu quarto pensando em como é bom ser criança e não querer entender tudo. Às vezes é bom acreditar no que as pessoas contam e, mesmo desconfiando, deixar passar. Foi o que ela fez. Não quis detalhes. Só quis dormir logo para acordar e encontrar moedas debaixo do travesseiro. E foi exatamente o que aconteceu. Hoje ela vai ganhar um presente!!!

E nós aprendemos o que sempre ensinamos: mentira, por mais bem intencionada que seja, é sempre uma mentira. A verdade, por pior que seja, é sempre melhor.