Engraçada a vida. Ainda outro dia eu era uma criança brincando no sítio da minha avó Lorena em Valinhos, interior de São Paulo. Passávamos lá quase todos os finais de semana e a maioria das férias. Éramos em 8 primos, uma farra só. O sítio tinha piscina, parquinho, galinhas, horta, pomar, cavalo. E muita comida na mesa sempre. “Come tudo”, era a frase que minha avó mais repetia. Nem precisava.

Come Tudo!!

Me lembro da gente comendo horrores. Hora debaixo da mangueira enquanto ela descascava fruta por fruta, uma para cada neto. Hora na varanda quando comíamos laranja e ela fazia óculos com a casca. Hora nas árvores de amora, de jabuticaba, de jambo. E ela sempre atrás: “come tudo, hein?”.

E a gente comia. A tarde ela fazia pão e a gente espiava crescer debaixo do cobertor. Às vezes fazia  gelatina, que a gente tomava antes de endurecer. O bolo acabava assim que saía do forno, não importava o sabor. Na hora das refeições a mesa era farta. Tudo muito simples, ela nunca gostou de comida elaborada, mas era tudo delicioso, até o arroz branco dela, sozinho, era bom! Minha avó tinha muito jeito na cozinha!

Digo “tinha” porque ela não cozinha mais. Passou dos 90, está velhinha, não fica mais muito tempo de pé, sente dores nas pernas. Já a cabeça continua ótima. Sempre lembra de tudo que eu falei e mais. Lembra de coisas que eu contei pra ela na infância, de episódios engraçados, do meu primeiro emprego, do quanto eu dava trabalho! Rs!!!

Eu morro de rir nesses papos! São sempre longos e muito gostosos. O difícil é me despedir. Ela sempre quer falar mais alguma coisa que lembrou. E, entre uma lembrança e outra, faço uma coisa que ela sempre fez comigo. É, anos depois os papéis se inverteram. No meio do papo eu sempre digo a ela “come tudo, viu?”. E ela ri, como eu fazia quando era pequenininha.